quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Relações Incestuosas no mercado acionário?

Louis Frankenberg,CFP®


Seres humanos, com raras exceções, são influenciados por fatores nem sempre dos mais honestos ou transparentes. Interesses conflitantes, ocultos mas mesmo assim inconfundíveis, podem alterar ou favorecer opiniões tendenciosas por parte de analistas financeiros, com a conivência de altas diretorias de empresas. Estas opiniões podem ocasionar distorções avaliação por parte do público investidor. Os papeis de algumas dessas empresas, podem ter grande visibilidade e negociabilidade no mercado acionário.


A revista The Economist, em sua edição de 6 de fevereiro último publicou uma pesquisa efetuada com 1.300 diretores corporativos de Wall Street. Os autores do estudo, James Westphal e Melissa Graebner divulgaram suas impressões no “Academy of Management Journal” no qual, entre outras considerações, afirmam que as lideranças das empresas por eles entrevistados muitas vezes preferem alterar a maneira de divulgar as informações a respeito de seus empreendimentos do que efetivamente fazer mudanças em divulgações contábeis e outras publicações. Em outras palavras seus dirigentes não gostam de ouvir opiniões negativas a respeito da maneira como administram as respectivas empresas, preferindo camuflar dados menos alvissareiros ao em vez de providenciar mudanças estruturais.


Os mesmos autores vão mais longe ainda, afirmando que a tal de Governança Corporativa dessas mesmas empresas perde grande parte da transparência e honestidade opinativa ao encarregar algumas vezes diretores de empresas amigas e, com as quais tem relações comerciais, de transmitir dados positivos e impactantes aos ditos profissionais analistas.


Com essas manobras, no mínimo dúbias, o chamado “rating” ou classificação de agencias especializadas em classificações, tendem a exagerar quando colocam suas características letras maiúsculas e minúsculas, seguidas de sinais positivos ou negativos junto ao nome da empresa visada. Como conseqüência tanto ações como obrigações dessas empresas cotadas nas bolsas tendem a se valorizar ou ao contrário desvalorizar (menos provável), confundindo desta maneira o público investidor, sempre ávido em obter lucros os mais rápidos possíveis.


Penso que deva ser esta uma das principais razões pelas quais algumas empresas não terão posteriormente a performance que se imaginaria pudessem ter caso o público fosse melhor (“honestamente”) informado. Infelizmente cifras, percentuais e demais dados menos interessantes muitas vezes são camuflados ( relevados ou disfarçados através de notas separadas ou mesmo ausentes) enquanto outros fatores mais espetaculares são realçados. Os prognósticos e probabilidades de lucros estão permeados nestes relatórios, sempre cuidadosamente redigidos pela diretoria.


Indo um pouco mais longe, e a conclusão é minha, é esta ultima sentença a razão pela qual algumas dessas empresas muitas vezes acabam posteriormente tendo cotadas suas ações bastante abaixo do que seria de se esperar (e no limite, até quebrando, causando grande reboliço nos mercados), considerando-se apenas a opinião de analistas coniventes e pouco éticos. Estas agencias especializadas em “rating” deveriam ser isentas e independentes, mas deixam de ser quando iludem o público com estas artimanhas.


Não podemos esquecer que agencias de “rating” sempre são contratadas e remuneradas pelas empresas interessadas em suas avaliações, é claro as mais positivas possíveis...


Provavelmente ( e esta também é minha própria opinião) seja essa uma das principais razões pelas quais grupos empresariais, especialmente do ramo financeiro de renome como AIG, Northern Rock, Citi Bank, Bank of Amerika, Royal Bank of Scotland, Fortis, Lehmann Brothers, HBO, UBS, ING, Merril Lynch, Freddi Mac, Fannie Mãe e ultimamente Dubai World, entre tantos outros, tiveram ou continuam tendo enormes dificuldades em limpar seus nomes após a grande crise financeira de 2008. Alguns desses grupos agora estão tentando desesperadamente levantar novo capital junto ao tradicional público investidor, além tentarem convencer fundos tipo hedge, fundos de pensão e fundos soberanos a adquirir participação em seus empreendimentos.


Igualmente é uma das razões de terem chegado à luz do dia, alguns esquemas fraudulentos do tipo Madoff e Stanford.


A pergunta que não cala em minha mente de consultor independente é imaginar se e quando estes relacionamentos incestuosos irão se manifestar publicamente em nosso próprio país, pois sinceramente, não acredito que somos imunes ou acima destas práticas escandalosas.


Será que os dirigentes de algumas das grandes corporações ativas em nosso próprio e incipiente mercado acionário estarão acima das palavras caluniosas por mim descritas­ acima? Acredito que, mais cedo ou mais tarde, algumas práticas menos convencionais, virão à tona. Sinceramente, preferia estar errado.


Finalizo com um conselho por quem já viu de tudo acontecer nas últimas décadas, aqui e alhures; Nunca se deixe influenciar por proclamações demasiadamente otimistas de diretorias de empresas de capital aberto com influencia em nossa própria bolsa de valores, nem por analistas dito especializados, jornalistas sensacionalistas ou quaisquer outros intermediários que possam estar comprometidos com a transparência e a isenção de suas recomendações.


Faça sua própria minuciosa pesquisa de dados e informações antes de adquirir qualquer ação muito recomendada e talvez artificialmente enfeitada para lhe colocar água na boca e lhe fazer correr para obter algumas migalhas da oferta!



S.Paulo 25-2-2010


*Louis Frankenberg é diretor de Planejamento e Finanças Pessoais da ANEFAC e sócio do site financeiro www.financenter.com.br


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